A gestão financeira de curto prazo

Começo a escrever este artigo motivado por um chamado interno que grita em minha consciência e me impulsiona a compartilhar conhecimento.

Há algum tempo tenho observado que gestores de unidades de negócios, executivos, coordenadores de áreas e até mesmo alguns gestores financeiros, têm alguma dificuldade de entender as características e as dinâmicas envolvidas na gestão financeira de curto prazo.

Meu objetivo com esse texto não é construir uma definição profunda e definitiva sobre o tema, mas sim, trazer luz ao assunto que se mostrou extremamente relevante para o gestor financeiro nos últimos tempos. Sobretudo em momentos de crise como a vivida em 2020.

Faz parte das atribuições do administrador de finanças elaborar um Plano Financeiro adequado ao seu ramo de atividade. Nele devem constar, obrigatoriamente, três reflexões básicas:

1. Planejamento Financeiro de Longo Prazo

O planejamento financeiro de longo prazo está relacionado com os orçamentos de capital. Os chamados investimentos em CAPEX (da sigla em inglês para “capital expenditure”), o que nada mais é além de investimentos em ativos de capital.

Este assunto é extremamente amplo e em breve, faremos outro artigo de igual relevância, para analisar as inúmeras formas existentes de avaliação das oportunidades de investimentos. Entretanto, em termos genéricos, deve ser constatado por meio do orçamento de longo prazo, que o fluxo de caixa gerado pela compra do determinado ativo supere seu custo de aquisição. Nesse sentido, é imperativo mencionar que independentemente do investimento analisado, os aspectos mais importantes que devem ser observados são o tamanho do investimento em termos de valores, a distribuição desses valores no tempo e os riscos de realização do fluxo de caixa.

2. Planejamento Financeiro de Curto Prazo

O planejamento financeiro de curto prazo, como o próprio nome revela, está relacionado com a administração das atividades diárias da empresa. Podemos afirmar que a gestão financeira de curto prazo está intimidante relacionada com o Capital de Giro da companhia.

A gestão do capital giro de uma empresa impõe ao administrador financeiro dedicação diária afim de assegurar a continuidade operacional e evitar interrupções que possam causar transtornos e gastos desnecessários. Essa responsabilidade envolve uma infinita lista de atividades relacionadas com ingressos e desembolsos da empresa.

3. Estrutura de capital

Por fim, o administrador financeiro deve pensar na estrutura de capital necessária para financiar as atividades da organização e os inúmeros investimentos planejados para o longo prazo.

A Estrutura de capital consiste na combinação ideal de recursos próprio e de terceiros e deve ser estudado segundo as seguintes premissas:

  • Volume de capital necessário
  • Custo de captação
  • Prazo de pagamento

A administração financeira de curto prazo e suas particularidades

Feita essa breve introdução, podemos mergulhar de vez no assunto principal desse artigo que reside na administração financeira de curto prazo e todas as particularidades envolvidas nesse desafio.

Como mencionado anteriormente, gestão financeira de curto prazo é a gestão dos recursos necessários para manter a empresa operando. Também entendida como gestão de capital de giro.

Toda empresa economicamente ativa desenvolve suas atividades através da repetição sistemáticas de ciclos não sincronizados, a saber:

  • Ciclo econômico
  • Ciclo operacional
  • Ciclo de caixa


Facilmente podemos observar na ilustração acima que o clico econômico consiste no intervalo de tempo compreendido desde a entrada da matéria-prima na empresa até sua venda como produto acabado.

Por sua vez, o clico financeiro ou ciclo de caixa, é o intervalo de tempo observado desde o pagamento dos fornecedores até o recebimento das vendas ou serviços.

Já o clico operacional, é o período tomado desde a compra da matéria-prima ou insumo até o efetivo recebimento das vendas. Este ciclo é marcado por dois períodos distintos. O primeiro é o equivalente ao ciclo econômico, tempo necessário para adquirir e vender estoque, também chamado de Prazo Médio de Estoque (PME). O segundo período é marcado pelo tempo necessário para cobrar as vendas, também chamado de Prazo Médio de Recebimento (PMR).

 Minha intensão não é, de forma alguma, ensina-los a calcular cada um desses prazos ou introduzir conceitos teóricos, mas sim, evidenciar a importância e a dinâmica desses elementos na difícil gestão financeira de curto prazo em momentos de escassez de recursos.

Dito isso, posso afirmar que a administração financeira de curto prazo é a gestão do capital de giro, que por sua vez, trata-se dos recursos aplicados no ciclo operacional da companhia. Tais recursos, como evidenciado anteriormente, assume diferentes formas ao longo de todo processo produtivo e de vendas.

Para uma análise mais profunda da gestão do capital de giro de uma empresa, proponho uma abordagem diferente da classificação as origens e aplicações dos recursos ao longo do ciclo operacional.

Afirmei anteriormente que uma companhia em plena operação desenvolve suas atividades através da repetição de ciclos não sincronizados. Os ciclos são dessincronizados, pois o momento do pagamento das compras de matéria-prima não ocorre no mesmo momento do recebimento das vendas. O prazo de pagamento dos impostos incidentes sobre as vendas de mercadorias ou serviços, muitas vezes ocorrem antes do recebimento de tal transação. Isso acontece porque as vendas e os fluxos futuros correspondente aos recebimentos são incertos e sofrem influência das políticas de curto prazo praticadas pela empresa.  

Exemplos de políticas de curto prazo:

  • Política de manutenção de saldos de caixa
  • Investimentos em estoque (matéria-prima ou produtos acabados)
  • Política de concessão de crédito

No geral as políticas de curto prazo são classificas em dois níveis.

  1. Polícias flexíveis de curto prazo.
  2. Políticas restritivas de curto prazo.

As políticas de curto prazo flexíveis levam a empresa a acumular saldos de ativos circulantes maiores e consequentemente maior consumo de capital de giro e maiores custos. Os chamados custos de carregamento. Já as políticas mais restritivas resultam em menores saldos de estoque e contas a receber. Isso significa menor consumo de capital de giro e menores custos. Os custos associados ao menor investimento em ativos circulantes são chamados custo de falta.

A correlação dinâmica entre os saldos acumulados no ativo circulante e passivo circulante, gerados pela política de curto prazo praticada pelo gestor da empresa, resulta em uma Necessidade de Capital de Giro (NCG). Essa NCG possui invariavelmente características de investimento permanente, pois somente deixarão de existir, ou passarão a constituir uma fonte de recursos, caso a empresa suspenda suas operações de forma parcial ou total.

Portanto, considerando que a Necessidade de Capital de Giro é uma aplicação de característica permanente, embora suas contas estejam classificadas no grupo do circulante e que o Capital de Giro (CDG) é a fonte de recursos disponível para financiamento do Ciclo Operacional da empresa, sou categórico em afirmar que  CDG  também deve ser uma fonte permanente de recursos. Isso significa que devemos captar fontes de longo prazo ou baixa exigibilidade para financiar na NCG.

O Capital de Giro deve ser um excedente de recursos de longo prazo dedicado a financiar aplicações de curto prazo, que por sua dinâmica de repetições de ciclos se torna permanente.

A diferença entre a NCG e o CDG é chamado de Saldo em Tesouraria (ST) ou efetivo de caixa. Um saldo em tesouraria positivo significa que o Capital de Giro está de tamanho adequado para financiar o ciclo operacional da companhia. Por outro lado, um ST negativo, significa que a empresa financia a NCG e/ou ativos permanentes com fontes de recursos de curto prazo.

Uma situação de caixa elevado por muito tempo não representa, necessariamente, uma situação desejável. Pode indicar uma falta de estratégias adequadas de investimentos. Entretanto, uma situação de Saldo de Tesouraria negativo por períodos prolongados aumentam consideravelmente o risco de insolvência.

O desafio para o administrador financeiro está em elaborar um consistente planejamento de caixa de curto prazo, de forma que o saldo de caixa seja o resultado de decisões estratégicas.

Não se pode esperar que a Necessidade de Capital de Giro seja constante ao longo do tempo, pois existe oscilações da parte variável da NCG representada pela sazonalidade da demanda. O planejamento financeiro tem a obrigação de antecipar as necessidades de captações de recursos para o financiamento de aumento sazonal de demanda, que para este caso, exclusivamente, podem ser de curto prazo, bem como definir alternativas de aplicação de excedentes.

O objetivo das empresas é se perpetuarem e gerarem lucros constantes. Isso significa que a NCG também se perpetuará junto com a companhia.

Portanto, o mais importante é que o gestor financeiro entenda a dinâmica das políticas de gestão de curto prazo e estabeleça fontes de recursos adequados. Como demonstrado, parte dos ativos e passivos e circulantes na verdade são permanentes. A relação entre eles resulta em uma necessidade de investimento que exige uma fonte de recurso de longo prazo. Própria ou de terceiros. Por outro lado, fique muito atento para não imobilizar recursos de terceiros de curto prazo, isso poderá colocar a empresa em risco de liquidez rapidamente.

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Jorge Lemos

Jorge Lemos

Jorge Lemos é contador, graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grade do Sul, Especialista em Finanças pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro e cursou MBA em Gestão Estratégica pela Universidad de La Sabana em Bogotá na Colômbia. Possui mais de 25 anos de trajetória profissional internacional na área de finanças, com passagens por empresas dos segmentos de Indústria, tecnologia e Comunicação. Especialista em projetos financeiros, finanças internacionais, gestão de crise, turnaround e diplomacia corporativa

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